terça-feira, 20 de outubro de 2015

Motivação X Satisfação - Uma reflexão

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Há muito tempo a expressão “motivação” já está consagrada quando a intenção é nos
referirmos ao fato de alguém gostar do trabalho e querer estar ali fazendo-o, naquele lugar,
com aquelas pessoas, daquela forma. O engraçado é que, quando lemos qualquer artigo
acadêmico relatando uma pesquisa sobre o tema, o termo usado geralmente não é
“motivação”, mas “satisfação”: “precisamos estar satisfeitos com o trabalho”, é o que se diz,
em vez de “precisamos estar motivados”. E assim, para não complicar as coisas, as pessoas
simplesmente tomam os dois conceitos como significando a mesma coisa, o que encerra o
assunto.

Mas eles querem dizer, de fato, a mesma coisa? Quando alguém fala em “motivação no
trabalho” pode-se ler isso sumariamente como “satisfação no trabalho”? E vice-versa? Uma
maneira de investigar a questão é examinar o que cada palavra diz etimologicamente – de
onde vem uma e outra e o que querem dizer, na sua origem, as raízes que as formam:
O termo motivação vem da raiz latina mot –, que está presente no particípio passado do
verbo move [= mover]. Essa raiz aparece numa multiplicidade de palavras em português,
como “motor”, “moção”, “movimento”, “comoção”, “emoção”, “motim”, “promoção”. Está
sempre ligada à ideia de movimento, ou deslocamento de um lugar ou situação para outro. Ou
seja, a motivação é a ação que desloca ou retira a pessoa de onde está, recolocando-a (ou
não!) em outro lugar: estar motivado é ter um motivo ou razão para agir, mexer-se, fazer
alguma coisa.

Por trás da ideia de motivação está, portanto, alguma força que nos impele: se existe uma
força empurrando-me, então eu vou; caso contrário, fico! Que força pode ser essa? Ah,
muitas: uma coisa que desejo muito, algo que desperta minha curiosidade, um objetivo que há
muito estou tentando conseguir, um lugar aonde quero ir, um conhecimento que sinto
necessidade de obter…

Por sua vez, satisfação vem de outro termo latino, satis, que é na realidade, um advérbio,
significando “bastante”, “suficientemente”. Ou seja, se estou satisfeito, é porque tenho aquilo
que quero em quantidade e qualidade suficientes, adequadas – não preciso de mais daquilo.
Também o termo latino satis vai aparecer em outras palavras que usamos em nosso idioma e
que têm essa mesma conotação, como “saciar” e “saturação”.

Porém, há alguma coisa especial com esta palavra – satisfação: ela também está ligada a
um sentimento de contentamento, alegria, prazer. E isso é fácil de explicar da seguinte forma:
se tenho o suficiente daquilo que preciso, então a tendência é que eu me sinta, por causa
disso, emocionalmente bem, num estado de tranquilidade e paz, muito próximo do prazer. Por
exemplo, estou com muita sede, chego a um lugar em que posso saciá-la e bebo quanta água
eu queira, uma água pura e fresca. Sacio minha sede e, com isso, experimento um estado de
calma e sossego, sem conflito interior algum.

Somente por esse exemplo já podemos perceber que é muito fácil deslocarmos o sentido
do termo satisfação, de algo que temos em quantidade suficiente, para o sentimento de prazer que essa posse nos traz. Assim, usamos satisfação para falar das duas coisas ao mesmo tempo: o salário, que nos é suficiente, e o estado de contentamento que temos por receber esse salário; o amor com que a mulher amada corresponde ao amor que lhe damos, e a tranquilidade que isso nos traz; o espaço, a decoração, a localização e tudo mais que se
relaciona com a casa em que moro, e o estado de paz de espírito que experimento por morar
aí.

Agora já podemos relacionar os dois termos com maior precisão: sim, motivação e
satisfação têm muito em comum: quando falamos em satisfação, estamos usando um termo
mais amplo e abrangente, pois não nos referimos apenas ao motivo que nos deixa feliz, mas
também ao estado de felicidade que experimentamos ao realizar esse motivo.

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